Este sonho começa durante o meu sono e acaba na próxima sessão de hipnose, que fiz com o meu terapeuta.
Sonhei, mas fiquei com a sensação de que tinha que voltar. Como sentia um grau de dificuldade considerável, decidi guardar a experiência para a fazer acompanhada pelo meu hipnoterapeuta. Por um motivo que ainda não compreendia, era importante tirar o máximo de proveito desta experiência, e ainda bem porque assim foi.
Durante muito tempo tive sempre o mesmo sonho. Sonhava entrar numa cave e não conseguia sair. Estava sempre escura, eu entrava e depois já não encontrava porta para sair. Acordava cheia de medo e aliviada por ser só um sonho.
Na noite de 20 de Junho o sonho retratou a cena antes de entrar na cave. Eu estava num espaço ao ar livre que tinha um campo de golfe, mas a configuração de um espaço militar. Tinha as boxes dos cavalos, a casa das armas, as salas de aulas e os espaços de exercícios para recrutas. Tudo aquilo estava vazio à exceção de mim e do meu filho, que me dava a mão e que me incentivava a entrar na cave. Ele estava calmo e sorridente. Um pequeno Buda. Dizia-me suavemente para entrar, que era seguro, que iria ser bom.
Eu mais uma vez senti muito medo. Um medo que como adulta só reconheço quando sonhava este sonho, e não entrei, antes acordei.
Em hipnose, voltámos ao local e com alguma reticência entrei.
Desci as escada e à medida que as descia o escuro aumentava e diminuía cada vez mais a minha visibilidade. Desta vez reparei numa pequena luz roxa que estava no centro da sala, e que só se iluminava a si mesma. Não acrescentava em luz à sala. Foquei naquela luz à espera que algo surgisse e de repente surge uma menina, de 6/7 anos, sentada “no canto escuro”, agachada com a cabaça entre as pernas e os braços a rodear, como quem se escondia.
Quando eu era criança a minha mãe tinha o hábito de me por de castigo no quarto escuro. Eu já ouvi outras histórias assim, sei que era mais ou menos comum fazer-se isto às crianças “mal comportadas”. Durou apenas alguns anos, em algumas ocasiões, mas foi muito mais do que eu estava preparada para sentir/lidar.
Aquela menina na cave era eu.
De imediato me dirigi a ela e quando me viu abraçou-me e eu peguei-a ao colo. Surgiu uma janela, eu abri-a e o sol entrou.
De repente fui levada a um pequeno riacho. Os meus pés estavam imersos e pisavam as pedras do fundo, que eu conseguia ver perfeitamente. No relvado ao lado do riacho estava o meu filho e a eu-criança a brincar. Conseguia ouvi-los a rir e em segurança.
O meu colega sugeriu que eu libertasse aquilo que precisava ser liberto e deixasse as águas do rio levar, e assim foi.
Até hoje nunca mais revivi aquele medo, nunca mais sonhei com aquela cave, já se passaram anos.
Aquela menina precisava encontrar a mulher e entender a informação que lhe faltava: que aquela era uma prática comum; que a mãe não sabia o que fazia e fazia o melhor que sabia; que a mãe não podia imaginar que aquilo a magoaria tanto quanto magoou, ou não o faria.
Aquela menina que esperava o cavaleiro que a viesse salvar, que era afinal ela mesma.
(Se queres sonhar mais, declara até acontecer e todas as noites, antes de adormecer, que vais sonhar hoje. O meu conselho é que peças para sonhar com o que quer que seja mais importante perceberes agora, mas tens mais controle sobre o que sonhas do que pensas. Podes pedir claridade sobre alguma situação específica. Sonhar, meditar, praticar hipnose são formas de ouvir e ver aquilo que podemos transformar a nosso favor. As nossas emoções indicam o caminho.)
Se precisas de entrar em cavernas escuras, em companhia de quem já lá esteve e te consegue ajudar a sair, envia-me uma mensagem sem compromisso e eu explico-te como funciona por aqui.
Cláudia Roque
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